3 de julho de 2010

30 mil origamis azuis (ou anis, turquesas, celestes)

21:11, as horas voavam junto ao vento. ela estava na frente do armário se perguntando se não esquecera de algum presente, lembrança ou fotografia. faltava tão pouco agora. o que são algumas meras horas mortais pra quem já esperou milênios cósmicos? estava nervosa, ansiosa, estressada, confusa e tudo ao mesmo tempo. olhou pro relógio de novo, 21:35. meu deus, pensou em voz alta. apagou as luzes, pegou a mala, a bolsa e as chaves. já no elevador se lembrou do mais importante: a câmera. correu, pegou a câmera no sofá, fechou a porta e entrou no taxi. pronto, estava tudo bem. 22:17, já no aeroporto resolveu comprar um último café (afinal, sabia que não ia conseguir dormir de qualquer jeito). 23:05 entrou no avião. a medida que as horas passando as borboletas no seu estômago iam ficando mais agitadas. não conseguia parar de pensar nele e no que ele acharia dela. talvez fosse achá-la baixa, morena, neurótica, boba, tímida, nervosa demais. poderia também simplesmente não gostar dela. estava estressada demais. tanto que mal via as parada que o avião fazia. quando ela resolveu fechar os olhos para descansar descobriu que já tinha chegado. as borboletas que até então estavam adormecidas resolveram acordar enfurecidas. o sol começava a nascer novamente na sua frente e o medo tomava conta de cada célula sua. então, antes que amarelasse de vez, resolveu levantar. ele estaria no aeroporto a esperando com aqueles olhos verdes demais e aquelas sardinhas tão lindas que ela gostava tanto. passou por entre os corredores e pegou sua mala tentando inventar algo para falar. quando já estava tudo pronto viu que não tinha desculpa e sabia que seria horrível passar por aquela porta de vidro e cruzar os poucos metros que os separavam agora. contou até seis e passou pela porta com os olhos voltados pro chão. ouviu seu nome uma, duas, três vezes mas preferiu ignorar até a hora em que um par de sapatos pretos ficou em sua frente. estava vermelha demais para olhar pra cima, seu coração pulava pra fora de seu peito e esquecera de respirar. esquecera até mesmo do seu próprio nome porque aquilo era surreal demais até pra ela. milhares de quilômetros que se tornaram míseros centímetros. ela ficou parada, eles ficaram parados por alguns segundos até que ela conseguisse voltar a pensar. mas as palavras voltavam todas tímidas e aflitas. até que ele se aproximou mais e disse que poderiam continuar ali, se ela preferisse e ela respondeu quase sussurrando que esqueceu as palavras em casa. ele a mandou buscar as palavras então e os dois riram. já menos envergonhada resolveu olhar pra cima. os olhos verdes dele refletiam todas as luzes do aeroporto e ela se sentiu perdida por todas aquelas luzes mágicas e hipnotizantes que por mais próximas que estivessem, não eram dela. ele a olhava sem entender o que acontecia e ela sem graça, deixava suas bochechas enrubescerem. ela começou a andar, olhando para seus sapatos de bolinhas e parou. ele a olhou ainda confuso e perguntou se estava tudo bem e ela ainda olhando para os sapatos respondeu prontamente que não. jogou sua bolsa em uma cadeira e pegou a câmera. enquanto limpava seus óculos pediu para ele se sentar. por um momento ele até pensou em relutar mas já prevendo o fracasso resolveu atender ao pedido. em alguns minutos ela já havia dado centenas de cliques até que disse rindo que achava que tinha encontrado o modelo que a deixaria famosa. ele sem graça escondia o rosto e a vergonha por entre seus dedos. ela guardou a câmera e perguntou se ele não tava se esquecendo de nada. ele sem fazer idéia do que ela estava falando perguntou o que ele era que ele estava esquecendo. você me deve um abraço, vim pra cá só pra cobrar a dívida, ela respondeu. ele perguntou rindo se ela queria recebê-lo agora. e antes que ela pudesse responder ou pensar em mais alguma coisa idiota pra falar, sentiu como se todos os seus buracos fossem tapados um a um até não sobrar nenhuma fresta por onde a tristeza pudesse entrar. e por um instante, todos os sons pararam de se propagar até o momento em que só sobrou o silêncio e eles.