24 de outubro de 2010

flores mortas no cinza vivo

Me acordaram. arrombaram a nossa casa pra me dizer que eu não poderia mais falar ou então eles iriam me machucar. era mais uma lei sem fundamento. "pessoas com o nível de sensibilidade emocional elevado perderam o direito de falar por serem um atraso às pessoas normais". perdi o direito de falar e junto o dever de ouvir. me deixar muda me deixou surda. palavras mentem, pessoas também. passei a enxergar e sentir mais. passei também a falar com os olhos e escrever declarações sem fim pra ti na areia, assim, o mar pegava as palavras e quando a chovia minhas frases bobas escorriam pelo teu rosto. agora eu uso roupas floridas. há cinza demais na cidade. perdi meu emprego e minha casa mas ganhei tudo de volta quando eu acordei. já fazia 3 anos que eu não te via. quer dizer, eu ainda te via a tua sombra na nossa cama. os suspiros morreram todos e os livros foram devorados por inteiro. cortaram a tv. cancelaram o jornal. eu estava perdida naquela cidade que era tua. eu só era uma luz apagada no meio de luzes que brilhavam sem parar. enquanto eu tragava meus cigarros com gosto de vento me lembrava da sensação de ter meu coração batendo junto ao teu. pararam de ler meus textos e eu os parei de publicar. não gostam de textos grandes, falta de coerência e pontos e vírgulas mal colocados. a poeira virou neve. era dezembro outra vez. parei de contar os anos.