Alice querida,
Ele te faz mal. É um cigarro, pode virar câncer. Ontem eu li que até a água pode dar câncer. Mesmo fazendo mal vá atrás dele. Ele te ama. Você o ama. Escreva com e para ele. Vocês são lindos juntos. Mais do que quando estão separados por obstáculos imaginários. Uma beleza que cansa pela manhã. Uma beleza que só existe se você disser um sim. Eu te amo e quero que você vá vê-lo. Espero que vocês tenham o céu vermelho que tanto merecem. Me fale o dia da viagem. Vou deixá-la no aeroporto. E estarei te esperando lá quando você voltar com um sim, não, talvez ou tanto faz. Esqueça os outros. Ele é perfeito pra você se você quiser se destruir. Mas é bom se destruir e começar do zero. Ele te faz bem até quando machuca. É uma dor que faz lembrar o que é sentir. Eu sei como é, eu sinto isso. Queria causar isso em alguém mas essa carta não é sobre mim e sim sobre o que você deveria fazer agora. No seu lugar eu já teria ido. Chorado, gritado, construído uma máquina do tempo e voltado aquele dia fatídico em que um personagem fantasma entrou na trama e mudou as regras do jogo, feito uma exposição que mostrasse tudo o que eu sinto no fundo e que no fundo permaneceu até ele chegar. Ele não veio em um cavalo branco. Como você tem tanta certeza de que ele é o cara se nem um cavalo branco ele tem? E daí que ele pinta, escreve e é tudo o que você precisa? Todos precisamos disso. Eu preciso aprender a voar a você não me vê saltando de prédios sem paraquedas. Eu o odeio. Eu o odeio mais do que o cheiro da minha mão depois de um cigarro escondido. Agora eu só falo de cigarros. Ele fuma? Deve fumar. Ele tem cara de quem fuma. Foda-se se ele fuma. Vai lá no prédio dele e espere ele voltar pra casa. Quando ele chegar, deixe-o sem palavras sem falar nada. Vá com o cabelo natural. Eu amo seus cachos. Ele deve amar também. Quem não te amaria? Se você estava esperando um alguém pra te apoiar nessa missão doentia, saiba que eu to aqui pra isso. Pra alimentar seus desejos suicidas e seus sonhos impossíveis. Tudo pra você se sentir bem nem que isso só dure segundos. Até porque, sair de casa já é se aventurar. E temos que nos aventurar enquanto ainda somos jovens. Quando ficarmos velhas, toda e qualquer loucura será tachada como crise da meia-idade.
Beijos da sua irmã,
Morgana