Tanta gente faz tanta coisa mais bonita. Tanta gente. Tanta coisa. Sempre tão mais tão bonita. Pra que fazer se não vai ser tão bela? Pra que continuar tentando e datilografando, sujando os dedos de tinta, correndo atrás de fantasmas e os filmes perdidos no escuro. Olhei aquele retrato e me vi mas não me estava ali. Só Morgana e nada mais. Morgana rouba meu corpo e me faz ser atropelada no meio da ponte. A fonte, a ponte, o ponto, as pintas. São só palavras, nada além disso. E assim, o romance sintético saiu da tela e virou vela pra velejar. Velejou sozinho por séculos até se encontrar perdido no meio do mar de outros romances reais. Resolveu naufragar. Meias palavras mudam os dias. Você não sentia falta das letras. Anne, das vírgulas. Eu dos suspiros.
pescava.
pés-cava.
pés-casa.
Meus pés nos seus pés. Meus pés frios, meus pés mórbidos, cama branca, nossa casa cor-de-azul num fim de tarde. Gravando. Gravo em você os traços dos meus lábios que estão a descascar. Meus batons são escuros e combinam com a sua pele. Tudo meu combina com você. No princípio, éramos uma peça só. Agora somos também. Se for de verdade, continuaremos sendo mesmo depois dos créditos.
Esse texto é claro, é caseiro, é adulto e não foi escrito por Morgana e sim pela dona das palavras.